terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Janela

A Janela



Estaria aqui a fotografia duma janela na qual se reflecte na noite um lampião. A parede da casa é branca e, em fundo, vê-se o negro absoluto do firmamento.


Aguardei setenta e três anos por esta fotografia. Parecerá loucura tão longa espera para obter a imagem banal de uma janela iluminada na noite por um lampião.

Não foi loucura. De toda a galáxia escolhi o império do Sol, nele desci ao rincão da Terra, de onde baixei à chamada Europa; fui à face agachada da mesma e achei Portugal, de que me atraiu o queixo que dá pelo nome de Algarve; depois, aí, descansei em Lagos, que me aconteceu no signo da Virgem, à beira do Equinócio, na casa comprida da velha Rua do Outeiro, tendo eu visto a luz do dia exactamente no quarto de que esta é a janela iluminada. Provado fica não ser, para mim, uma imagem banal.
Tudo isto comporta mais mistério do que cogitam mil filosofias.
Entretanto, morreram todos os intervenientes na estranha aventura e, antes que me junte a eles, aqui deixo a janela, para que conste. Por outra hei-de sair – não tarda – em busca duma nova odisseia.

1 comentário: