segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Paul Samuelson

13 de Dezembro. 2009
Morreu Paul Samuelson. Para qualquer economista não é uma simples notícia a juntar às banalidades do dia-a-dia. Pelo que me toca, ela representa ainda um motivo de evocação da década de sessenta em que um amigo encarregado da tradução da sua famosa obra "ECONOMICS" para uma edição da Gulbenkian, transferiu para mim, por falta de tempo, boa parte desse encargo de que me desempenhei a 50 escudos a página. Assim mantive com Samuelson um dilatado contacto espiritual que se prolongou da matéria económica ao pormenor do léxico e da sintaxe. Como subcontratado, não me coube, é certo, a titularidade editorial, mas isso aceitei-o com desportivismo e compreensão das circunstâncias.
Mais tarde, vim a recomendar Samuelson (bem como Hicks, Dornbusch, Lipsey e outros) aos meus alunos na Faculdade, e jamais deixei de juntar ao apreço pela sua extraordinária capacidade expositiva a recordação de um periodo de convulsão doutrinal em que falar dos seus textos rondava o sacrilégio.
Morreu o Nobel de provecta idade no Massachusetts. Obrigado. Que descanse em paz.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Natal esvaído

Dantes, mal se aproximava o Natal já ele se ouvia e pintava nas ruas enfeitadas de luzes, hoje apagadas, que anunciavam a esperança do comércio, o nascimento de Jesus e a proximidade do solstício.
Neste ano de 2009, Jesus reduziu-se a zero, o comércio tradicional desliza para a falência, e o solstício tornou-se um fenómeno demasiadamente astral para invocar mais do que imagens que não podem ser menos nossas: trenós, renas e neves da Lapónia. As imagens que a TV nos dá reduzem-se a publicidade maciça de fibras ópticas e quejandos, a um Pai Natal convertido à semi-imbecilidade e a animais cornudos e falantes. O Presépio deu o lugar à caixa multibanco e à hortaliça dos hipermercados; as boas regras na utilização dos cartões de crédito e no confronto de percentagens sobrepõem-se a qualquer futilidade da poesia e do espírito.
E os cânticos de Natal? Eram tradicionalmente algo de inspirador na quadra. Este ano a televisão praticamente ignorou-os. Nas ruas o mesmo silêncio a entristecer a sombra da noite. Apenas entreouvi, por detrás duns pacotes de pinhões num super-mercado, a melodia muito sumida de "White Christmas" na voz dum Bing Crosby tão morto como o Natal que se esvai.
Caminhamos para uma nova era? Não é só a crise económica que o explica.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Universidade revisitada

No dia 4 deste mês de Dezembro festejámos no Porto os 25 anos da primeira Licenciatura em Direito na UCP. Dei a primeira aula do Curso e agora vim achar os meus ex-alunos em manifestações de regozijo. Neste longo intervalo houve transfigurações mais ou menos superficiais a evidenciar que somos transitórios. Engordaram uns, emagreceram outros, o cabelo fugiu de uns tantos, alguns surgiram-me com barbas quase patriarcais. Em todos abstraí esses pormenores de modo a avivar os motivos de saudade. Não foi dificil recompo-los na radiosa juventude, particularmente as antigas discípulas, elas que mais cuidam de contrariar a marcha do tempo.
Que maior satisfação resta a um professor do que sentir a amizade e gratidão dos seus discípulos? É a prova por excelência do dever cumprido.