quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Regresso à madrugada

Há ainda aqueles para quem não existe sol nem sombra: os que já não vemos entre os vivos com as emoções e ideias que nutriam. Subo a rua, distante sete décadas e cento e vinte léguas e só acho as pedras e os sonhos que nelas se esculpiram. Pois cuidamos que apenas restam essas pedras, cimentos e alvenarias, e nisso se ilude nosso engano. Basta ter olhos de sentir. E olhos de sentir é vislumbrar da escolinha, ao berlinde e ao pião, os lépidos vicuinhos tamagazes zunindo pela calçada, e as tranças aurimélias da vergôntea donzília, e o piscoso vozalhão mariscal a apregoar sua safra, e os "cow-boys" gatilhantes, mais os índios escalpelosos carruscos, berrantes, tagatim, tagatim na pradaria; e os meus ancestrais já dilusos na recordativa, mas mais que vivazes, que me acodem espiando-me as traquinadas e vaivéns que borborinho com desfaceira. Esfumam-se os antanhos, posto que ei-las melancolicamente firmes as casas antigas. E o burgo reassume a solene indiferença pela alma que o sustém.

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