quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Natal esvaído

Dantes, mal se aproximava o Natal já ele se ouvia e pintava nas ruas enfeitadas de luzes, hoje apagadas, que anunciavam a esperança do comércio, o nascimento de Jesus e a proximidade do solstício.
Neste ano de 2009, Jesus reduziu-se a zero, o comércio tradicional desliza para a falência, e o solstício tornou-se um fenómeno demasiadamente astral para invocar mais do que imagens que não podem ser menos nossas: trenós, renas e neves da Lapónia. As imagens que a TV nos dá reduzem-se a publicidade maciça de fibras ópticas e quejandos, a um Pai Natal convertido à semi-imbecilidade e a animais cornudos e falantes. O Presépio deu o lugar à caixa multibanco e à hortaliça dos hipermercados; as boas regras na utilização dos cartões de crédito e no confronto de percentagens sobrepõem-se a qualquer futilidade da poesia e do espírito.
E os cânticos de Natal? Eram tradicionalmente algo de inspirador na quadra. Este ano a televisão praticamente ignorou-os. Nas ruas o mesmo silêncio a entristecer a sombra da noite. Apenas entreouvi, por detrás duns pacotes de pinhões num super-mercado, a melodia muito sumida de "White Christmas" na voz dum Bing Crosby tão morto como o Natal que se esvai.
Caminhamos para uma nova era? Não é só a crise económica que o explica.

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