quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Da Natura, da Criação e da Transformação.


No palco do mundo físico, o homem é um mero transformador. Mas transformar não é criar, é recombinar as peças dum puzzle caídas de algures. Se faço um “origami” não crio, transformo. O papel, o tempo e o espaço, desde logo esses, preexistem ao objecto que construo por recombinação. O papel, ele também, é fruto de uma recombinação a partir de ingredientes que preexistem a qualquer esforço humano.
Tudo, a máquina, o vidro, o grafeno, a fibra de carbono, o guarda-chuva, o prédio da esquina, etc, são fruto de recombinações físicas e moleculares de elementos, a montante do processo, que não derivam de qualquer esforço humano. Esses elementos constituem aquilo a que podemos chamar Natureza, acervo imenso de “coisas” que perfazem um conjunto que é gratuito, fixo e heterogéneo. “Gratuito” porque o seu conjunto foi originariamente oferecido à Humanidade; “fixo” porque a Humanidade não tem maneira de alargar o respectivo conjunto; “heterogéneo”, pois comporta elementos tão diversos como a luz solar, a água dos rios e oceanos, o vento, o gelo dos glaciares, o minério no subsolo, a borboleta na Amazónia, a ave que percorre os ares, o tempo, o espaço, etc.
À autoria deste conjunto, a essa sim, deveremos dar o nome de Criação. Tudo, pois, a ela se reporta. Ora o Elemento motor da Criação merece um nome grande e reverenciado—seja Deus, ou outro qualquer que decidamos dar-Lhe. Ele há-de situar-se, logicamente, fora do mundo físico, e à realidade fora do mundo físico dou o nome de “realidade espiritual”, domínio da espiritualidade. Essa realidade espiritual estará “fora” do mundo físico, mas penetrá-lo-á profundamente.
Crer nesse Deus e no facto de Ele, deisticamente, nos conferir alguma relevância (solicitude?) (se lhe fôssemos totalmente indiferentes, qual o propósito de existirmos?) é uma crença que, na impossibilidade de ir mais além, só ela nos baste. Não interessa que traduza irrefutavelmente a verdade (pois que é isso de “irrefutável”?), importa, sim, que disso nos convençamos. A fé é um “salto no escuro”, afinal.
Somos tão minúsculos no enquadramento físico e temporal do Universo que nada poderemos concluir de absolutamente definitivo. Para não tombar no abismo sem fundo, devemos agarrar-nos a uma qualquer protuberância da sua face—e aí deixar que floresça e solidifique a nossa conjectura. Tolhidos pelas quatro forças fundamentais do universo físico, tentar ir mais longe não passa de eterna ginástica do pensamento. A menos que haja o “milagre” da Revelação definitiva. Como se afere?